(continuação de 16- O aquartelamento de Sacassange)
A nós, os recém-chegados, chamavam-nos os maçaricos ou os “mikes”.
Para todos, quase todos, oficiais e restante pessoal, era tudo novo, desconhecido e estranho.
Para além, da já referida conferência de bens e equipamentos e da transmissão de responsabilidades, o novo comando, capitão, alferes, sargentos do quadro, furriéis e soldados, identificavam-se com a região envolvente de Sacassange, com as pessoas e com o destacamento militar na povoação do Canage, localizado a uns bons quilómetros do quartel, junto à picada para o Lucusse e Gago Coutinho.
A sobreposição, os contactos e as novas funções não se limitavam apenas ao Comandante de Companhia, Capitão Miliciano, João Manuel Perdigão e aos dois únicos elementos do quadro do exército, o Primeiro-sargento, António Ledo Teixeira e o Sargento-ajudante, António Manuel Azevedo, mas também a todo o pessoal, onde cada um com o seu posto teve de passar por situação idêntica, para que, uma vez, sozinhos, não tivessem problemas.
Eu, Carlos Alberto Santos, era um dos quatro Alferes Miliciano da Companhia de Caçadores 3485.
Fiquei responsável pelo chamado primeiro grupo de combate, com cerca de vinte a trinta elementos, o segundo grupo estava entregue ao Alferes Miliciano João Bouquet Monteiro, o terceiro grupo ao Alferes Miliciano António Oliveira Boavida e o quarto grupo ao Alferes Miliciano Jorge Goerva Coelho.
Há mais informações sobre a constituição da Companhia, que podem ser consultadas em:
http://cc3485.no.sapo.pt/comando.htm
A minha equipa (1º grupo de combate), onde havia gente “cinco estrelas” e muito bem formada, era constituída por soldados naturais de Angola (pretos e brancos) e de soldados brancos provenientes da metrópole, na sua maioria de Trás-os-Montes.
Isto resultou do facto de, aos elementos da metrópole, se ter juntado o pessoal angolano, durante o período de permanência no Grafanil. A maior parte do pessoal angolano distinguia-se dos restantes não só pela cor, mas pelos costumes que traziam consigo.
Apesar de não ter tido tempo suficiente para os conhecer bem em Luanda, alguns pareciam-me cultos e com mais estudos do que alguns soldados da metrópole. Há os que tinham mesmo estudos liceais. O máximo de habilitações que encontrei nos soldados da metrópole, era a terceira e a quarta classe.
A todos, devo muito.
Antes dos planos da nossa autodefesa, curiosamente a prioridade dada pelo nosso comandante de companhia foram as escalas de serviço para os próximos tempos e a colocação dos soldados “aramistas”.
Embora muito jovem, percebi de uma maneira tão clara que os jogos começavam e que a máquina burocrática do exército e os senhores já habituados aos gabinetes estavam a instalar e a instalar-se, a fazer a guerra no papel e a importar ou a transportar vícios adquiridos de outras comissões.
Enfim, entre muito resmungar, cedi, pensei, elaborei e tentei os melhores planos.
Nunca tive dúvidas que estava a dar o meu melhor e que queria ser imparcial. Interessava que não houvesse motivos para grandes desagrados ou discussões.
Em conclusão, nunca consegui agradar a todos.
. Ex-Militares