Domingo, 2 de Novembro de 2008

47- Perdidos na mata

(continuação de 46- Formigas térmites e duas matacanhas)

 

Nas 79 operações e patrulhamentos que o 1º grupo de combate realizou, onde não houve mortes, feridos ou acidentados, conhecemos dificuldades e muitas contrariedades, mas a sorte nunca nos abandonou porque fomos sempre audazes, disciplinados e prudentes.


Restaram, para recordar, algumas situações curiosas, como por exemplo:


O dia em que me perdi na mata.

Quando decorria a nossa terceira operação, sem saber bem como, em determinado momento deixei de ter locais para referência, o mapa não conseguia ajudar, os carregadores só queriam voltar para trás, e não havia meio de se encontrar um trilho ou um simples regato.
À nossa volta, havia um denso e alto arvoredo e um terreno arenoso sem vegetação rasteira e água. Nunca consegui encontrar uma explicação para o que nos aconteceu.
Ao quinto dia já andávamos a comer ração de combate a meias, algumas folhas e umas frutas parecidas com laranjas.
Ao sexto dia, sem comida e com alguns raspanetes do capitão via rádio, lá conseguimos chegar a um pequeno curso de água que nos orientou e nos permitiu após uma longa caminhada chegar à picada de Luma-Cassai.
Com as coordenadas certas solicitei a recolha do grupo.

Em conclusão, fomos recolhidos em estado miserável e esfomeados ao princípio da tarde do sétimo dia, sem uma única resposta às nossas mensagens via rádio.
A fome e a falta de cigarros, para alguns, foi uma experiência horrível.
Quando chegámos ao quartel as palavras de conforto e de ânimo que estavamos à espera foram substituídas pela seguinte frase:

- Daqui a três dias vai novamente para a mata!
Foram momentos de desconforto, talvez piores do que uma emboscada do IN, mas já estava habituado a tudo e facilmente encarava as situações difíceis como desafios.

 

A operação entre dois rios, o Cuilo e o Luchico, onde o meu cão Buda desapareceu durante dois dias.

Foram momentos muito difíceis e intrigantes.

Temíamos o pior, pensávamos que podia ter sido comido por uma onça, mordido por uma cobra ou ter caído numa armadilha, enfim, só de me lembrar, fico arrepiado.
Tudo fizemos para o encontrar, alterámos o esquema da operação, os itinerários, retardámos os nossos movimentos, parámos e deixávamos bem expostos uma quantidade de cheiros e materiais, que ele muito bem conhecia.
Tudo parecia terrível e angustiante, mas era uma situação que mais dia, menos dia eu imaginava que pudesse acontecer.
Ao cair da tarde, íamos para a segunda noite de angústia, o Teixeira que estava numa sentinela mais avançada deu um sinal de alerta e de perigo, parecia que alguém vinha a rastejar. Movimentamo-nos em auto defesa, mas acto contínuo houve-se o Novo e o Canelas a gritarem: - Calma pessoal, pessoal é o Buda, é o Buda. Buda, vem!
Logo que ouviu o seu nome levantou-se, avançou e demonstrou todo o seu contentamento. Parecia muito cansado e magro, mas a sua felicidade era enorme. Nós, entre festejos e algumas lágrimas de contentamento também tínhamos saído de um pesadelo.
 

(a seguir - formigas quissongo e a fuga dos carregadores)

 

publicado por Alto Chicapa às 10:36

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Terça-feira, 14 de Outubro de 2008

40- Calejamento dos grupos de combate.

(continuação de 39- Chuva diluviana)

 

A nossa companhia após o calejamento dos grupos de combate, já habituados às dificuldades da mata, e às possíveis tácticas do IN (inimigo), desenvolvia a actividade operacional para áreas de intervenção militar, enquadradas pelos rios, Cassai, Cuango, Cuango-Mugué, Cumbi, Cucumbi, Cuilo, Luchico, Chicapa, Luchace, Luachima e Chiumbe, e incrementava o apoio social junto das populações, a partir da própria companhia no Alto Chicapa, de um destacamento na aldeia de Cambatxilonda e, na parte final da comissão, com um novo destacamento na aldeia de António Cavula.


As operações que realizámos nas matas e nos rios do Alto Chicapa, eram alternadas de cinco em cinco dias, mata / quartel, ou eventualmente de seis dias, mas eram quase sempre iguais e até o medo das minas durante o trajecto para a largada ou na recolha se mantinha, no entanto, conforme os locais, mudava a vegetação, o estado do tempo, as nossas dificuldades e uma ou outra peripécia.
 

(a seguir - Os preparativos da operação “Pato 7212")

 

publicado por Alto Chicapa às 11:57

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