(continuação de 31- Ordem de movimento para o Alto Chicapa)
Aconteceu, muitas vezes, ficar a pensar: - O que é que eu faço aqui? – Que necessidade tenho eu de estar aqui?
Mesmo assim, saí de Sacassange para o Alto Chicapa com motivos para recordar, gostava das pessoas daquele povo luena (malwena), dos batuques e dos merengues no Canage, que eram sempre muito ritmados e de grande beleza, havia sempre um grupo de homens, colocados ao centro, tocavam os tambores, e o resto dançava de volta, velhos e novos, mulheres com filhos às costas, mexendo-se com espantosa facilidade e cantando ao mesmo tempo uma linguagem que nunca cheguei a perceber. O Soba e os Mais Velhos, todos muito velhos, vestidos de umas velhas fardas de um luxo esfarrapado, assistiam sentados em banquinhos baixos, com uma dignidade imperturbável.
Aquele mundo africano era lindo, estava cheio de vida, de juventude e de imaginação.
As casas de adobe e de capim, algumas construções sobre estacas, a fuba, o milho, o feijão, a batata-doce, os panos soltos com que as mulheres se cobriam, a imensa proliferação de crianças de todos os tamanhos, as estupendas figuras das meninas prontas para o casamento rentável para a família, tudo isto era de facto estranhamente original, belo e apaixonante, apesar da pobreza.
Umas vezes vi tragédias, miséria e falta de sentimentos, noutras, vi finais felizes e até sonhos.
Deste bocadinho de comissão guardei comigo, para hoje partilhar com amigos e outras pessoas, mapas, fotografias, slides, memórias e umas garrafas de whisky. Outras, impartilháveis, como os cheiros, os sabores, a poeira, a lama, o cansaço e a nostalgia depois de cada aerograma, ainda são, mesmo assim, levemente possíveis de serem descritas. Outras coisas, não podiam vir, vão partir comigo para sempre até que a morte nos apague, os amigos sem cor e que nunca mais vi, as matas que ainda não conheciam a ganância do ser humano, os horizontes, o medo, a alegria, a descoberta e a camaradagem.
Os portugueses que por ali estiveram noutras épocas, alguns são acusados, de terem matado, estropiado e escravizado. Não foi grandioso ou louvável para nós, mas hoje ninguém os pode avaliar e seria insuportável e de desconfiar de tais intenções, porque julgar os outros e a história tendo a vantagem do tempo diante dos nossos olhos, é duvidoso.
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