(continuação de 28- O povo e a vida difícil das mulheres)
Enquanto estive no destacamento do Canage tive oportunidade de conviver com dois irmãos de mães diferentes, um rapaz e uma rapariga ainda “cafeco”.
Cuidavam da minha roupa com esmero e muita limpeza. Ele falava regularmente o português, tinha imensa curiosidade, um grande desejo de aprender e ler. Aos poucos começámos a ter mútua confiança. Tratava-o por Dito.
Um dia levou-me pela aldeia, a ver o sítio onde lavavam e secavam a roupa, a visitar o adivinhador, que tinha um pouco de médico também, o local onde se faziam as cerimónias fúnebres, o local da circuncisão, os batuques, onde se dançavam os merengues e a zona da sanzala onde vivia a sua família.
Apresentou-me, os seus outros nove irmãos e irmãs (alguns ainda de colo), quatro fogosas e esbeltas mulheres, duas ainda de seios empinados, uma seria a sua mãe, teriam idades entre, talvez, os 15 e os 40 anos e no caminho de terra batida havia uma cubata diferente, e maior, onde na frente e à sombra de uma grande árvore, estava sentado um homem que aparentava muito mais idade. A todos falei. Era gente boa.
Durante o regresso, pensei;
- Não pode ser, este homem, que é certamente muito mais velho, não dá conta daquelas mulheres e para fazer os filhos deve ter um ajudante.
Olhei para o Dito e com algum receio perguntei:
- Dito como é que o teu pai dá conta de todas aquelas mulheres?
- "Oh alferes, não esfala isso, os filho és mesmo dele."
Quando deixei o destacamento fiz questão de me despedir especialmente daquela família, deixei uma recordação monetária e os meus livros ao Dito e ofereci uma caixa de cucas (cervejas) ao pai.
No entanto, não saí sem que ele me desse o segredo da sua capacidade sexual.
Respondeu-me, "Cá, nossalferes, tem esperto, tomo milongo (?), que vou buscar nos mata, para ter os pau direito e fazer os minino" (já não me lembro do nome, mas mostrou-me uma raiz amarelada parecida com um nabo grande).
Ainda pensei que seria o pau de Cabinda ou o pó de cantaridas, mas aquele “milongo” era certamente mais do que isso.
Saí desta zona, sem a angústia de querer ser herói, satisfeito comigo, honrado e com o luxo de ter gravado o meu olhar longa e eternamente. Houve momentos mágicos que ao recordarmos fazem parar o tempo e o mundo se fosse possível.
Muitos anos depois vi o filme África Adeus, e como eu acreditei na frase que Meryl Streep diz para Robert Redford: - Tudo o que disseres agora, eu acredito.
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