Quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

41- Os preparativos da operação “Pato 7212”

(continuação de 40- Calejamento dos grupos de combate)


Calharam-me seis dias na mata com o meu grupo de combate na operação “Pato 7212”.

  • Ordem: Patrulhamento ofensivo, para identificação, detecção e divulgação de grupos IN, preparar e colaborar na sua perseguição, captura ou aniquilamento, recuperar população e destruição de meios de vida do IN.
  • Largada: Picada Alto Chicapa / Luma-Cassai junto ao rio Cassai.
  • Recolha: Picada Alto Chicapa / Cuango junto ao rio Cuango.
  • Região: Margem esquerda do rio Cassai até à sua nascente e margem direita do rio Cuango desde a sua nascente até ao cruzamento com a picada (ponto de recolha).
  • Duração: De 04 de Dezembro de 1972 às 05,00horas, até às 16,30 horas do dia 09.
  • Meios: Um grupo de combate com 17 homens, um cão, espingardas G3 e 100 munições / homem, algumas granadas de mão defensivas e 03 nativos / carregadores vindos da aldeia de Samuge.
  • Distância: 46 quilómetros (ponto de largada / ponto de recolha).

Na véspera de todas as operações, era meu hábito, reler os aerogramas particulares que me chegavam de Luanda com alguns destaques sobre a actividade do IN, ler a documentação oficial que recomendava a saída para a mata, e estudar, anotar e segmentar o percurso numa carta topográfica da região.


Ao jantar, alguns soldados questionaram-me sobre a saída de seis dias, em vez de cinco, e a razão de irmos para o rio Cassai com poucos homens, para uma zona tão perigosa.


Um condutor também me abordou sobre a saída.

– Então alferes, amanhã lá vão dar um passeio até ao Cassai!


Pensei: - Se toda esta gente na Companhia, sabe com antecedência aquilo que vamos fazer, também os carregadores e os turras o devem saber. Arriscamo-nos a ter alguma surpresa desagradável.


Falei com capitão sobre esta falta de confidencialidade, e a atenção que a zona merecia. 

 

Mesmo assim, com o ar mais inocente do mundo, garantiu-me:
- Ninguém sabe da operação.
- Só eu é que sei a zona para onde vão e como a área da nossa Companhia é um território quase tão grande como o Alentejo, o risco é mínimo.
- O que dizem, é coisa que não me tira o sono.
- Até pensei que me ia dizer alguma coisa importante ou mais séria!
- Ainda lhe digo mais, mesmo o saber-se que vai haver, uma operação, não é um factor de insegurança é uma vantagem a nosso favor.
- O inimigo pensa sempre duas vezes antes de se aventurar no nosso território ...


Achei que não valia a pena continuar a participar naquele monólogo, estava a … sentir-me muuuito buuurro!


Mesmo assim, já feito burro, ainda argumentei:
- O pior, é se eles pensam quatro vezes e ficam à nossa espera prontos para as boas-vindas?


Encolhi os ombros e aceitei aqueles argumentos, afinal era uma teoria como qualquer outra.


Durante a noite trovejou e relampejou violentamente.

 

Porém ao início da operação sentia-se que o calor aumentava gradualmente de intensidade e as chuvas caíam algures mais para norte do local onde tínhamos sido largados.

O cheiro a terra molhada, era muito agradável e representava o rejuvenescimento da vida das plantas, dos animais e a força da natureza.


Dizia-me um soldado:

- Alferes Santos, a mata é muito agradável mas também transmite medo. Não se houve nada à nossa passagem, nem um ronco de um animal, nem um piar de um pássaro.
 

Tal como previra, a zona por onde andei, durante seis dias no meio de uma mata densa e em alguns locais de difícil penetração, numa área junto aos rios Cassai e Cuango, era uma zona, vizinha do acantonamento da UNITA (estávamos em pacto de não agressão) e da passagem do MPLA e FNLA para o norte de Angola (a maioria tinha regressado às bases na Zâmbia e no Zaire).
 

(a seguir - Operação "Pato 7212", primeiro dia)

publicado por Alto Chicapa às 15:32

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